ATA DA DÉCIMA SEXTA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA EM 04.09.1987.

 


Aos quatro dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima sexta Sessão Extraordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às onze horas e onze minutos foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Auro Campani, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Cleom Guatimozim, Ennio Terra, Flávio Coulon, Getúlio Brizola, Gládis Mantelli, Hermes Dutra, Ignácio Neis, Jorge Goularte, Jussara Cony, Kenny Braga, Lauro Hagemann, Nilton Comin, Paulo Satte, Pedro Ruas, Rafael Santos, Raul Casa e Teresinha Irigaray. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura das Atas da Nonagésima Quinta Sessão Ordinária e da Vigésima Sétima Sessão Solene que, juntamente com as Atas da Nonagésima Segunda, Nonagésima Terceira e Nonagésima Quarta Sessões Ordinárias e da Vigésima Sexta Sessão Solene, foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Frederico Barbosa, 08 Pedidos de Providências, solicitando troca de lâmpada a Rua Dom Pedro II, em frente ao nº 752 e no poste imediatamente abaixo deste; desentupimento de bueiros no cruzamento das Ruas Xavantes com Caeté; asfaltamento da Av. Cristóvão Colombo, entre as Ruas Benjamin Constant e Dom Pedro II; troca de placa denominativa na Rua Lavradio entre os nºs 64 e 74; implantação de uma rótula de cruzamento das Estradas do Varejão, São Caetano e Otavino Pinto, no Lami; limpeza de valos e bueiros na Estrada do Varejão, entre o Posto de gasolina e a Escola Estadual Oscar Coelho de Souza, no Lami; conserto de vazamento de água na Rua Alberto Torres, altura do nº 80 ao nº 90; troca de lâmpada queimada na Estrada Juca Batista, em frente ao nº 10430; pelo Ver. Hermes Dutra, 01 Pedido de Providências, solicitando reposição de calçamento em pedra irregular na Rua Cândido Silveira, esquina da Av. Vinte e Quatro de Outubro; pelo Ver. Isaac Ainhorn, 02 Pedidos de Providências, solicitando instalação de bicos de luz na Rua “N”, Vila Monte Cristo, Bairro Vila Nova; troca de luminária na Rua Santo Antônio, nas proximidades do nº 876. Ainda, constatada a existência de “quorum”, foram aprovados os seguintes Requerimentos: do Ver. Cleom Guatimozim, solicitando que o Projeto de Lei do Executivo nº 38/87 seja considerado em regime de urgência; do Ver. Hermes Dutra, solicitando Renovação de Votação do Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 05/87; do Ver. Lauro Hagemann, solicitando que o Grande Expediente do dia nove de setembro seja transformado em Sessão Especial em apoio à luta do povo chileno, em prol da reconquista da democracia naquele País. Ainda o Sr. Presidente deferiu Requerimento da Ver.ª Gladis Mantelli, solicitando que o Projeto de Lei do Executivo nº 48/87 seja incluído na Ordem do Dia por força do art. 44 da Lei Orgânica Municipal. Ainda foi apregoado Requerimento do Ver. Jorge Goularte, de Moção de Desagravo ao Exército pelo fato ocorrido durante Sessão na Assembléia Legislativa do Estado, ocasião em que o Exército foi injustamente atacado, na presença do Exmo. Sr. Comandante Militar do Sul, neste Estado, o Gen. Edson Boscacci Guedes, que, depois de ter sido encaminhado à votação pelos Vereadores Kenny Braga, Jorge Goularte, Raul Casa, Jussara Cony, Flávio Coulon, Lauro Hagemann e Hermes Dutra deixou de ser votado em face da inexistência de “quorum”. Na ocasião o Sr. Presidente respondeu a Questão de Ordem do Ver. Jorge Goularte, a cerca do Requerimento de sua autoria acima referido. Constatada a inexistência de “quorum”, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às doze horas e três minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima terça-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Brochado da Rocha e Secretariados pela Ver.ª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): a Mesa comunica ao Plenário que defere Requerimento de autoria da Ver.ª Gladis Mantelli em que solicita seja o PLE nº 48/87 incluído na Ordem do Dia por força do art. 44 da LOM.

 

(Obs.: Foram aprovados os demais Requerimentos constantes na Ata.)

 

Ainda, para ser votado, Requerimento de autoria do Ver. Jorge Goularte de Moção de Desagravo ao Exército pelo fato ocorrido durante Sessão na Assembléia Legislativa do Estado, ocasião em que o Exército foi injustamente atacado, na presença do Exmo. Sr. Comandante Militar do Sul, neste Estado, o Gen. Edson Boscacci Guedes.

Em votação. (Pausa.) Com a palavra, para encaminhar, o Ver. Kenny Braga.

 

O SR. KENNY BRAGA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Ver. Jorge Goularte propõe ao Plenário desta Casa que se aprove aqui uma Moção de Solidariedade ao Exército Nacional, através do Gen. Boscacci, que teria sido desrespeitado na Assembléia Legislativa do Estado.

Não considero, Sr. Presidente, que a Câmara Municipal de Porto Alegre deva tomar uma posição em relação a esse episódio. Não corresponde à Câmara Municipal de Porto Alegre julgar este episódio. A situação da Câmara Municipal de Porto Alegre é extremamente difícil, porque se a Câmara aprovar uma Moção de Solidariedade ao Exército, que teria sido desrespeitado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, nós parlamentares, estaríamos contra os parlamentares. Estaríamos censurando o direito de um parlamentar ocupar a Tribuna da Assembléia e expor as suas idéias sobre o momento político brasileiro e sobre fatos ocorridos no passado deste País. Estaríamos incitando, através de uma Moção de Solidariedade ao Exército, o repúdio a esta censura, às idéias de um parlamentar livremente eleito pelo povo de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul.

Então, me parece que o Ver. Jorge Goularte quer nos colocar numa armadilha. A Câmara não tem nada que se manifestar a respeito deste episódio como Câmara. O Ver. Jorge Goularte poderia perfeitamente encaminhar, de sua autoria, da sua lavra, uma manifestação pessoal a respeito do episódio e estaria no seu direito de fazê-lo. Mas não pode engajar a Câmara como Instituição para fazer colocações sobre o episódio.

Eu posso até, Ver. Jorge Goularte, concordar que o discurso do Líder do PT, Raul Pont, foi inoportuno. Até posso concordar com V. Exa., mas não posso retirar do Dep. Raul Pont o direito de se manifestar a respeito dos fatos políticos recentes da História do Brasil, porque se tirarem este direito dos parlamentares, não teria nenhum sentido a presença dos parlamentares na Assembléia Legislativa, nas Câmaras e no Congresso Nacional.

O Exército se intromete em tudo neste País. O Exército pode tudo neste País. Pode, inclusive, atropelar a Constituinte. Pode imiscuir-se em áreas que não lhe compete. E eu não estou propondo aqui que o Exército se intrometa na Constituinte, a aprovação de um Voto de Solidariedade aos Constituintes, que evidentemente estão sendo agredidos pelo 3º Exército.

 

O Sr. Jorge Goularte: Faça.

 

O SR. KENNY BRAGA: Poderia fazê-lo, Vereador, mas acho que não é o procedimento correto. Posso me manifestar como cidadão, como parlamentar me manifesto, mas engajar a Câmara nisto, não. Se nós aprovarmos esta Moção de Solidariedade ao Exército estaremos desautorizando a nós mesmos. Estaremos limitando a nossa competência de falar sobre o que nós bem entendermos. Fiz este encaminhamento porque acho que esta matéria é extraordinariamente séria e grave e corríamos o risco de aprovar algo sobre o qual não sabíamos bem qual o seu conteúdo. Mas, a tempo vimos que se trata de uma matéria muito séria, comprometedora e que poderemos quebrar a Casa se a aprovarmos. Era isso que queria dizer sobretudo para defender o direito de todos os parlamentares de todos os partidos políticos de se manifestarem livremente, pois não haverá de ser a censura de um general eventual, passageiro, como é o Comandante do III Exército, que vai ditar as regras  para os parlamentares. Porque, do contrário, estaremos submetendo à censura do Comando Militar do III Exército os nossos discursos, as nossas opiniões e idéias. Todo o Deputado que for se manifestar sobre questões nacionais precisa passar pelo Comando e chancelar o seu discurso? Isso é uma barbaridade. Isso é uma negação da democracia, antes que isso aconteça, fechem-se estes parlamentos e se declare que a atividade parlamentar não tem nenhum valor e não tem nenhuma dignidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, para encaminhar, o Ver. Jorge Goularte.

 

 O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Ver. Kenny Braga deve ter tido, no passado, um problema muito sério com algum militar. Não sei se foi preso ou se foi mau soldado. Acho que nem soldado ele foi, porque, se tivesse sido, conheceria mais a caserna. Não entendo essa sua ênfase toda contra o Exército brasileiro. Não entendo.

Ver. Kenny Braga, há pouco, nesta Casa, votou-se uma Sessão para homenagear o povo chileno, aí V. Exa. acha válido. Já votamos ao povo da Nicarágua uma solidariedade, já votamos até para o povo chinês. Agora, para o Exército de seu País, Vereador, que foi enxovalhado por pessoas como V. Exa. que não têm cabeça para pensar no presente, no futuro e vivem do passado. V. Exa. só fica atacando o passado. No passado só houve anistia. O que é anistia? Apagar o que aconteceu, mas Ver. Kenny Braga não quer apagar, ele quer assoprar, ele quer voltar ao passado, ele vive do passado e não tem os olhos voltados para o futuro.

E vejam bem: o que eu disse da Tribuna num discurso? Que respeito, até sem aceitar, que um Deputado do PT criticasse quem quisesse, mas numa Sessão Ordinária, não numa Sessão Solene. O momento de criticar é que foi impróprio e se o Ver. Kenny Braga não conhece o Gen. Edson Boscacci Guedes eu faço questão de um dia levá-lo até ele e apresentá-lo, para ver o “gentleman” que é o Gen. Edson, incapaz de ofender qualquer cidadão, incapaz de ofender uma pessoa. É um homem que não tem qualquer comprometimento com os erros do passado, Ver. Kenny Braga, e se V. Exa. acha tão estapafúrdio que eu apresente um Requerimento desses, vote contra. É um direito que lhe cabe, mas não venha dizer que estou jogando a Câmara contra não sei quem. Não. Eu fiz um Requerimento como qualquer outro. Vote contra. V. Excelência é contra o Exército de seu País, que é tanto seu quanto meu. E tem um outro Requerimento ali em que eu me insurjo contra o que estão querendo fazer com as Forças Armadas Brasileira, onde um pequeno grupo de esquerda, gatos pingados, querem aparecer, mas não são absolutamente nada. E no conjunto dos Constituintes não são nada, só fazem barulho.

E ao Ver. Flávio Coulon digo o seguinte, da mesma forma como disse ao Ver. Kenny Braga, é o Exército do seu País, a Marinha do seu País, a Aeronáutica do seu País. Porque quem não concordar com este País, com as suas Forças Armadas, está vivendo no País errado.

Por isso Sr. Presidente e Srs. Vereadores, com tranqüilidade apresentei este Requerimento de Desagravo às Forças Armadas, especialmente ao Exército, porque foi convidado para uma Sessão Solene, e lá foi ofendido a tal ponto que teve a solidariedade de todos os partidos. Todos se retiraram em protesto, e não apenas o General, do Presidente da Assembléia aos Representantes de todos os Partidos, se retiraram pela inoportunidade do pronunciamento.

Mantenho o meu Requerimento e vote contra quem quiser. Agora, espero que compreendam, as Forças Armadas não são minhas, são de todos nós. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem dos inscritos, com a palavra o Ver. Raul Casa pelo PFL.

 

O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, provavelmente não usarei os cinco minutos para não repisar as coisas que aqui já foram ditas, mas para trazer ao Vereador proponente deste Requerimento a solidariedade do PFL, da Bancada, que já havia sido expressa em telegrama remetido à S. Exa. Na verdade é bom se recordar que S. Exa., o Gen. Edson Boscacci Guedes havia tomado todas as cautelas no sentido de evitar que ocorresse o que ocorreu. A solenidade havia sido proposta e aprovada pela unanimidade dos Srs. Deputados. Mas do que isso, não constava dos atos um pronunciamento do Deputado do PT, que comunicou à Mesa, no início da solenidade, que haveria de usar a palavra. Então a armadilha não foi montada pelo Ver. Jorge Goularte. A armadilha não está nesta Casa que tem o direito sagrado de se manifestar a favor e contra, democraticamente, sobre o episódio. Por isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Bancada do PFL manifesta a sua solidariedade a um ato que foi repudiado pela grande maioria daqueles que querem manter o País dentro de um clima de cordialidade, sem acirramento, sem provocações e que o fato sirva de lição, para que inclusive, esta Casa saiba que a hospitalidade, a compreensão e a boa educação são apanágios do povo gaúcho, que nesse episódio, lamentavelmente, ficou, em nosso entendimento deslustrado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem dos inscritos, com a palavra a Vereadora Jussara Cony, que falará em nome do PCdoB. V. Excelência tem cinco minutos, sem apartes.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Sr. Vereador proponente desta solidariedade ao Exército Nacional, em primeiro lugar, nossa solidariedade à postura levada por um parlamentar na Assembléia Legislativa, Dep. Raul Pont, no pleno exercício do seu direito de um mandato com respaldo popular, de fazer uma análise numa Sessão, de acordo com o programa do seu partido, inclusive, resgatando o histórico do que tem sido o papel das Forças Armadas neste País que no momento tem sido, ao lado dos interesses populares. Estamos saindo de um Regime Militar que sacrificou a Nação Brasileira, cujo papel das Forças Armadas foi, não aquele que hoje as forças democráticas e progressistas, dentro e fora da Assembléia Nacional Constituinte, lutam para definir realmente o verdadeiro papel das Forças Armadas que deve se restringir a resguardar as fronteiras da Pátria e não se imiscuir na vida política deste País. Até hoje vemos que tem sido, temos presente hoje, no processo em curso da Assembléia Nacional Constituinte, o que representa a democracia, a liberdade e a própria soberania da Nação Brasileira. O papel que as Forças Armadas vêm desempenhando é de tutores da Nação, de entreguistas da Nação, de emperradores de avançar para a democracia e para a liberdade, se imiscuindo na vida política do País, no momento em que se luta na Assembléia Nacional Constituinte e fora dela para garantir uma Constituição democrática e progressista, é decisivo sim, que se garanta o verdadeiro papel das Forças Armadas, repito, de acordo com o programa do meu Partido, era o de resguardar as fronteiras da Pátria. O papel do parlamento brasileiro é o de se imiscuir na vida política da Nação, esse é o papel das organizações democráticas e populares, das centrais sindicais, movimentos comunitários, das entidades representativas da sociedade civil, dos partidos políticos. Agravado seria o parlamento brasileiro se não pudéssemos, como não pudemos durante muito tempo, seja em Sessão Solene, seja no momento em que temos direito, porque buscamos através do voto popular, sejam os Vereadores, Deputados Estaduais, Constituintes, e, numa Tribuna garantida por este voto, colocarmos o nosso posicionamento e o posicionamento dos nossos Partidos. De nenhuma maneira nós poderíamos votar a favor do Requerimento do nobre Ver. Jorge Goularte, exatamente porque temos outro entendimento. E temos nós, Vereador, o entendimento de quem luta pelo nacionalismo. Temos o Relatório Bernardo Cabral, que faz parte deste papel nocivo de se imiscuir na vida política deste País, papel este que as Forças Armadas continuam tendo na Nação Brasileira. A ponto, inclusive, de o Relator Bernardo Cabral declarar na imprensa que vários Deputados Constituintes estão ameaçados em relação à questão da anistia. Isto não é apenas o Deputado e outros Deputados Constituintes que têm como um segredo, isto já faz parte, hoje, da própria imprensa, de denúncias concretas na Assembléia Nacional Constituinte, por lideranças de vários partidos, inclusive, no momento, nas Comissões Temáticas. Muitos de nós Vereadores podemos acompanhar como estava sendo feita a pressão através de militares do alto Comando do Exército para que se colocasse na Constituição aquele projeto que o Exército Nacional pretende levar para a Constituição, no sentido de continuar se imiscuindo na vida política do País. Não vamos esquecer que cada vez que um Governo eleito pelo povo tem-se colocado no sentido de avançar para as conquistas fundamentais, transformações fundamentais na vida política e econômica do País, estes Governos têm sido derrubados através da participação do Exército Nacional. Não vamos nos esquecer do que ocorreu em 1964. E neste momento, da garantia das instituições democráticas deste País, a solidariedade que podemos trazer a esta Tribuna é, exatamente, do direito de um parlamentar eleito pelo povo levar à Tribuna aquilo que é programa de seu próprio Partido, em respeito às próprias instituições democráticas, das quais fazem parte os partidos políticos desse País. E entendemos que com a unidade das forças democráticas e progressistas é que nós haveremos de avançar, para constituir a nova Nação Brasileira e, nesse processo, definirmos muito bem que o papel das Forças Armadas não pode mais ser o de se imiscuir na vida política da Nação, mas sim, apenas resguardar as fronteiras deste País. É nesse sentido que somos frontalmente contra essa Moção trazida pelo Ver. Jorge Goularte, até porque é intempestiva. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para encaminhar o Ver. Flávio Coulon, pelo PMDB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, além dos aspectos de sensibilidade que envolvem esse Requerimento, e o que vem posteriormente a este, me preocupa a colocação feita aqui pelo ilustre Líder do PL, que disse em alto e bom som, desta Tribuna, que quem votar contra essa sua Moção é contra o Exército Nacional. E por extensão, e para poupar tempo, ele virá aqui dizer que quem votar contra a próxima Moção será contra o Ministro Leônidas Pires Gonçalves, que faz parte do meu Governo, Governo do PMDB no plano federal, com o qual V. Exa. sabe que tenho sérias e altíssimas restrições com esse Governo do Sr. José Sarney, e isso nunca neguei daqui. Esse tipo de colocação, feita pelo Ver. Jorge Goularte, desnuda exatamente aquilo que o Ver. Kenny Braga colocou, aqui da Tribuna, é o que me preocupa, justamente o sentido de dividir esta Casa através do voto daqueles que estão contra o Exército Nacional e dos que estão contra o Ministro Leônidas Pires Gonçalves e dos que estão a favor do Ministro. E o caminho, absolutamente, não é esse. O que nós vamos votar é simplesmente a oportunidade de a Câmara de Vereadores se manifestar a respeito de dois acontecimentos que já se esgotaram dentro de si, que já foram suficientemente debatidos, que já foram suficientemente explorados e que, agora, quando as cinzas tentam ser apagadas, nós tentamos soprá-las novamente. Com que finalidade? Ficará o Exército Nacional mais engrandecido com uma Moção de Solidariedade destas? Acredito que não. Ficará esta Casa diminuída, se nós impormos uma censura a um poder paralelo ao nosso, a uma Tribuna do Povo? Acredito que sim. Entendo que precisava haver um certo equilíbrio, um certo respeito, entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. E não me parece oportuno que um poder Legislativo municipal se imiscua, censure a atividade de um poder Legislativo tão grande, ou até maior, do que esta Câmara Municipal. Em qualquer País do mundo, as declarações do Ministro da Guerra seriam encaradas com a maior naturalidade possível, porque ele - e é este o próximo Requerimento que vem aí - se manifestou numa reunião de Ministros, com todo o direito que tinha de dizer o que bem entendesse lá dentro. Só no nosso País, e só no Governo José Sarney, é que declarações feitas lá dentro são trazidas a público. E com que finalidade? Justamente com a finalidade da intimidação, com a finalidade de tentar diminuir o valor desta Tribuna, justamente com a finalidade de tentar se imiscuir na livre deliberação de uma Assembléia Nacional Constituinte. De modo que sem ser contra o Exército Nacional, reconhecendo, certo ou errado, como qualquer instituição Brasileira, que todas são certas e todas têm os seus erros, reconhecendo o papel que esta instituição tem, reconhecendo o papel que a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul sempre tem desempenhado é que, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, sou obrigado, pela minha consciência em defesa da liberdade de Tribuna dos Parlamentares, a me colocar contra simplesmente a esse Requerimento, jamais contra qualquer tipo de instituição brasileira e contra qualquer autoridade investida em um cargo, porque aqui não se  está tratando de pessoas, mas de poderes, estão tratando de instituições. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para encaminhar, pelo PCB, Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Ver. Jorge Goularte tem todo o direito, como Vereador, de apresentar a Moção que bem lhe aprouver, e os demais Vereadores têm o direito de concordarem ou discordarem. É nesse sentido que faço a minha intervenção, de absoluta discordância com S.Exa., pela inoportunidade da apresentação deste Requerimento, no meu entendimento, e proclamo mais uma vez o meu profundo respeito pela instituição militar deste País, que é um dos pilares da nacionalidade, queiramos ou não. O que me leva a concluir também que os integrantes destas Forças Armadas têm se entrincheirado na instituição para desvirtuarem a verdadeira finalidade das Forças Armadas neste País. Isto é uma atitude histórica. No momento em que a Nação se resolve num processo de redemocratização, análises como as que foram feitas, ou tentaram ser feitas na Assembléia Legislativa do Estado, são pertinentes a esta discussão. Caberia à instituição das Forças Armadas responder alegando o seu papel, a sua participação nos acontecimentos históricos brasileiros. Este é o processo democrático e não mais um ato de truculência, como o que nós assistimos.

Em qualquer país do mundo as declarações do Ministro do Exército, como as que estamos assistindo pela imprensa, já teriam recebido o revide da autoridade máxima desse País, o que não está acontecendo. Os maus generais deste País estão mais uma vez tentando desviar a finalidade principal das Forças Armadas, que é a de manter a ordem e a integridade da Pátria, e não se imiscuir, se intrometer na vida política da Nação, da qual eles são parte, mas não são os tutores.

E por isso, Sr. Presidente e Srs.Vereadores, que o PCB vota contra a Moção proposta pelo Ver. Jorge Goularte, relevando mais uma vez o profundo respeito que tem pela instituição militar, não por seus eventuais comandantes, que nos últimos tempos têm dado mostras de impatriotismo. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. JORGE GOULARTE (Questão de Ordem): Parece estar havendo um equívoco. Ver. Lauro Hagemann, o Requerimento é sobre a instituição, não pessoas; solidariedade é às Forças Armadas, ao Exército.

 

O SR. PRESIDENTE:  Creio, Ver. Jorge Goularte, que a Sra. Secretária leu por três vezes o Requerimento, para o qual esta Presidência pediu que os Srs. Vereadores tomassem seus assentos. Mais: o documento encontra-se sobre a Mesa com a Sra. Secretária, se algum dos Vereadores desejar relê-lo.

Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra para encaminhar.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu me sentiria muito mal em por exemplo, dizer que o Ver. Lauro Hagemann, homem por quem tenho apreço e que até pela idade, mas pela experiência poderia servir de meu pai, está fazendo confusão. Mas eu acho que, realmente, está se fazendo uma confusão muito grande. O Ver. Lauro Hagemann disse desta Tribuna que tem gente do Exército que pega o Exército e o transforma naquilo que não é, fez uma crítica ao Exército. Eu acho que isto não é ofensa ao Exército, eu acho que isto é normal. Agora o que eu não acho normal é que em uma Sessão em que se é convidado para ser homenageado, e eu casualmente fui testemunha, por um azar ou não, naquele dia às 11h30min conversava com um amigo meu na Rua da Praia e passava um Coronel fardado, conhecido desta pessoa que estava comigo, e ao cumprimentá-lo meu amigo me apresentou: “Sabe este é o Ver. Hermes Dutra”. Ele disse: “Ah! O Senhor é Vereador, pois é, estou indo para casa porque nós temos que estar cedo na Assembléia, porque hoje vamos ser homenageados pela Assembléia.” Devo fazer-lhes uma confissão, eu disse assim: “Sessão na Assembléia em homenagem ao Exército, isto aí vai dar rolo, porque eu tenho sabido que essas Sessões Solenes de agradecimento não tem sido muito de agradecimento.” Sabem o que me respondeu o Coronel? Ele respondeu: “Não, nós temos absoluta certeza de que nada ocorrerá, até fomos lá saber para evitar atritos de que haveria 3 ou 4 discursos, PDT, PDS, PMDB e o PT, inclusive, tinha comunicado que não iria falar”. Então, a grande verdade, Ver. Lauro Hagemann, é que propositadamente, ou não, não estou aqui para julgar, se fez uma coisa que não devia e que não contribui de forma alguma para o bom andamento da nossa ansiada chegada à democracia total. Esta que é a questão. O Requerimento do Ver. Jorge Goularte é inoportuno. Seria se ele viesse propor uma Moção de Repúdio ao PT. S.Exa. foi extremamente político, apesar de não ter fama de político, costuma-se dizer que é um trator, porque leva tudo pela frente. Mas fez muito bem: propôs uma Moção de Desagravo ao Exército. Tem absoluta razão, mas também dou o direito a quem pensa o contrário. Seria falta de educação se ele quarta-feira chegar aqui e tecer elogios ao Pinochet, vir fazer minuto de silêncio pelos agentes de segurança que morreram, quando há um mês, tentaram assassiná-lo; lá morreu gente em pleno cumprimento de seu dever, pessoas que politicamente nada têm a ver com o regime e foram assassinadas por guerrilheiros. Acho que seria a mesma descortesia se ele viesse fazer esse tipo de coisa. Tenho dito, tenho votado questões que engulo com sapo. O mesmo não pode dizer, lamentavelmente, alguns companheiros de bancadas e alguns jornalistas desta Casa que, numa Moção apresentada contra o fechamento do Jornal La Prensa dirigido não pelo lado de um pastor, nem pelos contra nicaragüenses, mas, sim, pela D. Violeta Chamorro cujo marido foi assassinado pela Ditadura, exatamente por não dizer amém ao regime, esses regimes só deixam quem lhes diz amém, e esta Casa não aprovou aquela minha proposição. Lamentavelmente até jornalistas votaram contra. É um direito de cada um. Agora, o importante é que não façamos essa confusão. Vou votar favorável, porque não estou votando o repúdio ao PT. Meu voto é para tentar recolocar as coisas numa questão que vem de berço, que é a educação, Ver. Jorge Goularte. Porque tratar bem o convidado que vai a nossa casa, é uma regra primária de educação, Ver. Kenny Braga. E quem não tem essa regra primária de educação, não pode sequer exercer um mandato popular. Não pode! Não é possível eu convidar V. Exa. para ir a minha casa e lá, na frente de sua família, eu dizer impropérios a V. Exa. que por foi convidado para lá estar lá. Contra isso é que me insurgi e não contra essa problemática que acho que válida, acho bom que seja discutida, porque se fosse uma Sessão Especial para se discutir o papel das Forças Armadas e o General se retirasse porque foi dito alguma coisa que ele não havia gostado, aí não teriam o meu apoio porque se estava discutindo o papel das Forças Armadas, agora quando se convida para homenagear as Forças Armadas – me perdoe, Ver. Kenny Braga - é falta de educação.

Então, não se aprovasse a Sessão, não se fizesse Sessão, porque ninguém pediu Sessão. Eu lembro que nenhum Vereador até agora nunca propôs uma Sessão do Dia do Soldado. Eu não proporia, porque o clima aqui não é adequado. Agora uma vez proposta, desaforar quem venha aqui para ser homenageado, é falta de educação. Então, por esta falta de educação, é que votarei favoravelmente para desagravar o Exército Brasileiro, que, a meu juízo, foi ofendido por um mal-educado, que infelizmente é professor e deu um mau exemplo. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 12h03min.)

 

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